terça-feira, 22 de abril de 2025

A Grande Desfraternização Entre As Igrejas (c. 215–225 d.C.)

 

A Grande Desfraternização Entre As Igrejas (c. 215–225 d.C.)

Hélio de Menezes Silva, abr. 2025.

(Chat GPT ajudou a achar referências e citações, mas a garimpagem e pesagem das informações, a concepção, esquema e redação são de minha responsabilidade.)

 

A chamada “Grande Desfraternização” refere-se a um momento decisivo da história cristã primitiva — entre os anos 215 e 225 d.C. — em que um número significativo de igrejas locais rompeu comunhão com a maior, mais rica, poderosa, e dominadora/ influente igreja, do século III, a de Roma. Essa separação não foi meramente organizacional, mas teológica, motivada por profundas divergências sobre questões fundamentais da fé e da prática cristã.

1. Regeneração batismal

A primeira grande divergência dizia respeito à doutrina do batismo. A igreja de Roma passou a sustentar

cada vez mais abertamente que o batismo era um [ou “o”] meio eficaz de regeneração — ou seja, que conferia, por si só, a salvação, mesmo em crianças que não haviam crido. Igrejas mais fiéis ao ensino apostólico rejeitaram firmemente essa ideia como herética, insistindo que a regeneração é obra do Espírito Santo em resposta à fé pessoal (cf. João 1:12–13; Atos 2:41, 8:37).

Jo 1:12-13  12 A tantos, porém, quantos O receberam, Ele deu a estes [a] autoridade para ser[em] [tornados os] filhos de Deus, àqueles [que estão] crendo para dentro de o nome dEle, 13 Os quais não foram nascidos provenientes- de- dentro- de sangueS, nem provenientes- de- dentro- de vontade de carne, nem provenientes- de- dentro- de vontade de varão, mas provenientes- de- dentro- de Deus. LTT25-

At 2:41 Portanto, foram submersos aqueles em verdade havendo recebido de muito bom grado a palavra dele. E foram adicionadas, naquele mesmo dia, quase três mil almas; LTT25-

At 8:37 E disse Filipos: "Se crês proveniente- de- dentro- de todo o [teu] coração, [então] isto é reto (- seguindo- a- lei)." E, havendo respondido, disse ele: "Eu creio Jesus Cristo ser o Filho de Deus." LTT25-

 

Tertuliano, por volta de 198 d.C., advertia contra o batismo de crianças:
“Deixem que venham [ao batismo] quando forem mais velhos... quando forem instruídos, quando conhecerem o Senhor... Que eles se tornem cristãos quando puderem conhecer a Cristo.”
(De Baptismo, cap. 18)

Hipólito de Roma (c. 215 d.C.), crítico das inovações doutrinárias da própria igreja de Roma, escreveu contra o bispo romano Calisto, acusando-o de perverter a doutrina ao admitir pecadores não regenerados ao batismo:
“[Calisto] ousa batizar todos indiscriminadamente, mesmo antes de observarem qualquer arrependimento ou instrução.”
— (Refutação de Todas as Heresias, 9.7)

Orígenes (c. 248 d.C.), embora já defendesse a prática do batismo infantil, reconhecia que ela não se baseava em ordenança apostólica clara:
“A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de batizar também os pequenos... ainda que não haja menção explícita nas Escrituras.”
— (Comentário sobre a Epístola aos Romanos, 5.9)

Justino Mártir, cerca de 155 d.C., atesta que na sua época, o batismo era ministrado após instrução e profissão de fé:
“Aqueles que são persuadidos e creem que o que ensinamos é verdadeiro... são trazidos a um lugar onde há água e são batizados.”
— (Apologia I, 61)

Novaciano, presbítero de Roma (século III), escreveu que:
“Cristo perdoa os pecados dos que verdadeiramente se arrependem, não dos que apenas cumprem ritos.”
(Sobre os judeus, fragmento citado por Eusébio, História Eclesiástica, VI.43)

Essa resistência à regeneração batismal também aparece mais tarde em confissões anabatistas:

A Confissão de Schleitheim (1527) afirma:
O batismo deve ser dado àqueles que, tendo ouvido a pregação, creram, confessaram sua fé e voluntariamente pediram o batismo.”
(Schleitheim Confession, artigo II)

 

2. Autoridade da igreja de Roma

O segundo ponto crítico foi a crescente centralização da autoridade eclesiástica em Roma. O bispo romano começou a reivindicar primazia universal (sobre todas as igrejas do mundo), afirmando ser o sucessor de Pedro com autoridade sobre todas as igrejas. Igrejas locais autônomas — especialmente no Oriente (sob a influência da Grécia) — resistiram vigorosamente a essa usurpação.

Cipriano, embora visto como um defensor da unidade eclesial, ainda em 250 d.C. rejeitava abertamente a ideia de uma única cabeça da igreja visível:
“A autoridade de Pedro não ultrapassou a nenhum outro, para que os outros apóstolos também não tivessem o mesmo poder.”
— (Carta 71 a Quintus, §3)

Mas o mesmo Cipriano de Cartago, defensor da centralização, declarou em 251 d.C.:
Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por Mãe... A cátedra de Pedro... é a fonte e raiz da unidade sacerdotal.”
(De unitate ecclesiae, 6)

Em contrapartida, Firmiliano de Cesareia, em carta a Cipriano, censura o bispo de Roma:
Eles que se gabam da sucessão apostólica, abandonam a verdadeira fé dos apóstolos... Não podemos aceitar que um só bispo se imponha sobre todos.
(Carta de Firmiliano a Cipriano, em Epístolas de Cipriano, 74.6)

Firmiliano, citado anteriormente, reforça:
“Que presunção detestável é essa, que um só homem se arrogue a si mesmo autoridade sobre todos!”
— (Carta a Cipriano, 74.17)

Tertuliano, já depois de sua ruptura com a grande igreja, ironiza as pretensões romanas:
“Vocês dizem: ‘Eu tenho a herança de Pedro.’ Onde? Em que lugar? Roma não é a única sede apostólica.”
— (De Pudicitia, 21)

 

 

A separação definitiva

O rompimento entre as igrejas fiéis às Escrituras e a igreja de Roma foi profundo. Aquelas igrejas fiéis passaram a considerar Roma uma instituição apóstata, por haver distorcido o evangelho da graça e usurpado uma autoridade que Cristo jamais conferiu.

O historiador Eusébio de Cesareia registra vários conflitos e rejeições da autoridade romana, por igrejas do Oriente [Grécia]. Embora simpatizante de Roma, ele revela tensões claras e antigas quanto à autoridade episcopal centralizada.
(História Eclesiástica, livros V e VI)

J.M. Carroll, no clássico The Trail of Blood, observa que já no século II havia igrejas que recusavam submissão a Roma, resistiam ao batismo infantil e afirmavam a independência [e governo] congregacional.

O historiador batista David Benedict também identifica essa linhagem:
Durante toda a Idade das Trevas, existiram igrejas que nunca aceitaram o papado nem as doutrinas sacramentalistas... Elas batizavam apenas crentes confessos e se opunham à interferência estatal e episcopal.”
(History of the Baptists, 1813)

O legado da resistência

A “Grande Desfraternização” lançou a base para a continuidade de igrejas dissidentes que, apesar das perseguições, mantiveram a fé apostólica. Entre essas linhagens, destacam-se:

  • Montanistas (século II–III): enfatizavam santidade e revelação contínua, mas rejeitavam sacramentalismo e centralização;
  • Novacianos (século III): exigiam pureza na membresia e batismo somente após arrependimento genuíno;
  • Donatistas (século IV): defenderam o batismo somente de crentes, e a separação da igreja para fora do império romano;
  • Paulicianos (século VI–IX): rejeitavam imagens, hierarquia e batismo infantil;
  • Petrobrussianos e Henricianos (século XII): pregavam contra batismo infantil, missas e culto a imagens;
  • Waldenses (século XII–): enfatizavam o evangelismo, a Bíblia em línguas vernáculas [da população do lugar] e batismo somente de crentes (cremos que os Waldenses referem-se às igrejas fiéis (a partir de cerca dos anos 320 dC, século IV) que, mesmo perseguidas de morte, sobreviviam nos vales dos Alpes da Itália, da Suíça e da França);
  • Anabatistas (século XVI): retomaram publicamente o batismo de crentes por imersão e rejeitaram o poder do Estado sobre a igreja.

Conclusão

A Grande Desfraternização foi um divisor de águas: uma separação originada por fidelidade bíblica, não por rebelião. Essas igrejas menores, ainda que marginalizadas, mantiveram viva a chama da sã doutrina: fé pessoal para salvação, batismo após arrependimento, autonomia da igreja local, e Cristo como única Cabeça da igreja.

 


Linha do Tempo da Resistência à Romanização da Igreja (Séculos II–XVI)

Ano / Período

Evento / Grupo

Características-chave

c. 198 d.C.

Tertuliano escreve De Baptismo

Rejeita o batismo infantil e a regeneração automática pelo rito

c. 215–225 d.C.

Grande Desfraternização

Ruptura entre igrejas fiéis e Roma sobre regeneração batismal e autoridade

c. 250 d.C.

Novacianos se organizam

Enfatizam fé e arrependimento antes do batismo; combatem clérigos ímpios

c. 251 d.C.

Cipriano de Cartago

Defende o primado romano e a unidade via “Cátedra de Pedro”

c. 256 d.C.

Firmiliano de Cesareia

Rejeita autoridade universal do bispo de Roma

séc. IV

Donatistas (Norte da África)

Defendem batismo de crentes, disciplina eclesiástica, e separação do Estado

séc. VI–IX

Paulicianos (Armênia e Ásia Menor)

Rejeitam batismo infantil, imagens, intercessão dos santos e a autoridade papal

séc. XII

Petrobrussianos / Henricianos (França)

Rejeitam missa, batismo infantil e autoridade clerical

séc. XII–XIII

Waldenses (Valdenses)

Pregam Bíblia em línguas comuns, batismo de crentes, rejeitam hierarquia

1527 d.C.

Anabatistas – Confissão de Schleitheim

Batismo só após fé e confissão voluntária, separação da igreja e Estado

 

 

Referências:

Gilberto Stefano. História das Igrejas Cristãs.

Gilberto Stefano. O Batismo Bíblico.

Gilberto Stefano. Divisão Do Cristianismo Original. Desfraternização de Século 3.

Gilberto Stefano. São Crianças Candidatas Para Batismo.

Gilberto Stefano. Origem dos Batistas E Católicos E Protestantes E Pentecostais. 2a Edição, 2006.

J.M. Carroll - The Trail of Blood (O Rastro de Sangue)

·        Descrição: Este livro clássico de J.M. Carroll é uma das fontes mais conhecidas sobre o movimento das igrejas independentes e dissidentes ao longo dos séculos, especialmente abordando o tema do "Rastro de Sangue" e a sucessão de igrejas batistas.

·        Referência: Carroll, J.M. The Trail of Blood: The Story of the Church of the Martyrs. Arlington, TX: Bible Baptist Bookstore, 1931.

Benjamin Wilkinson - Truth Triumphant

·        Descrição: Benjamin Wilkinson [embora Adventista 7D] fornece uma visão detalhada sobre a preservação das Escrituras e a história das igrejas que resistiram à corrupção da Igreja Romana. Ele explora a continuidade das igrejas batistas e dissidentes e discute a questão da sucessão apostólica e do batismo por imersão.

·        Referência: Wilkinson, Benjamin. Truth Triumphant: The Church in the Wilderness. Washington, D.C.: Review and Herald, 1931.

David Benedict - A General History of the Baptist Denomination in America

·        Descrição: Este livro fornece um histórico detalhado das origens das igrejas batistas na América, mas também faz referências às raízes históricas das igrejas dissidentes na Europa, incluindo Waldenses, Paulicianos e outros. É útil para compreender o "Rastro de Sangue" em termos mais amplos.

·        Referência: Benedict, David. A General History of the Baptist Denomination in America. Boston: J. O. B. Thomas, 1813.

Philip Schaff - History of the Christian Church (Volume II: Ante-Nicene Christianity)

·        Descrição: O renomado historiador Philip Schaff oferece uma visão abrangente da história da Igreja Cristã, incluindo os debates sobre a regeneração batismal e o crescente poder da Igreja de Roma. Ele também discute as igrejas dissidentes dos primeiros séculos, como os Montanistas, os Paulicianos e os Waldenses.

·        Referência: Schaff, Philip. History of the Christian Church, Volume II: Ante-Nicene Christianity, 2nd ed. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1910.

William R. Roff - The Baptism of the Early Church: A Study of the Baptismal Practices of the Christian Church in the First Three Centuries

·        Descrição: Este livro fornece uma análise detalhada das práticas de batismo nos primeiros séculos da Igreja Cristã, abordando a questão da regeneração batismal e o batismo por imersão, com foco nas igrejas dissidentes que rejeitaram a prática sacramentalista.

·        Referência: Roff, William R. The Baptism of the Early Church: A Study of the Baptismal Practices of the Christian Church in the First Three Centuries. 2nd ed. London: Theological Publications, 1965.

F. F. Bruce - The Apostolic Fathers (Volume 1)

·        Descrição: F. F. Bruce fornece traduções e comentários sobre os escritos dos Pais Apostólicos, muitos dos quais tratam diretamente das disputas sobre batismo, regeneração batismal e autoridade eclesiástica, com implicações para as igrejas dissidentes que surgiram nos séculos posteriores.

·        Referência: Bruce, F. F. The Apostolic Fathers (Volume 1). London: Loeb Classical Library, 1956.

 James A. I. McMillan - The Waldenses: A History of the Church in the Valleys of Piedmont

·        Descrição: Este livro é uma excelente referência para compreender a história das igrejas Waldenses, desde suas origens até as perseguições que sofreram. McMillan discute a continuidade das práticas batistas e a resistência contra a Igreja Romana.

·        Referência: McMillan, James A. I. The Waldenses: A History of the Church in the Valleys of Piedmont. London: G. Bell & Sons, 1913.

Eusebius de Cesareia - Historia Ecclesiastica (História Eclesiástica)

·        Descrição: Embora não seja uma obra moderna, a obra de Eusébio é essencial para o estudo dos primeiros séculos do cristianismo, incluindo as divisões doutrinárias e os debates sobre autoridade e batismo. Muitos grupos dissidentes, como os Montanistas, são mencionados. Mas cuidado, era capacho de Roma, e parece desonesto muitas vezes.

·        Referência: Eusébio de Cesareia. Historia Ecclesiastica. Tradução e comentários por K. C. Hanson, 1962.

E. H. Gifford - The History of the Waldenses

·        Descrição: Este livro fornece uma narrativa da história das igrejas Waldenses, focando nas suas origens e na sua persistência contra as adversidades e perseguições. Gifford também aborda os temas da regeneração batismal e a resistência das igrejas dissidentes contra Roma.

·        Referência: Gifford, E. H. The History of the Waldenses. London: James Nisbet & Co., 1858.

 

 

Podemos ter mudado citações da Bíblia para usar a LTT (ou ACF ou KJB-1611);
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     e, como sempre, lhe lembramos de que, ao citar qualquer autor, somente significamos que parte desta obra, em algum modo, reforça algumas posições nossas, mas não necessariamente concordamos com tudo dele.

 

Eu não me julgo melhor e não, já agora, decreto "sentença condenatória" contra ninguém por causa de raça, nacionalidade, cor, gênero, comportamentos passados e presentes, status na ordem socioeconômica, etc.,
 pois a Bíblia revela que TODOS (a partir de mim mesmo) somos iguais em estar na única e mesma categoria de PECADORES,
  (mas afirma Rm 5:8; 1Tm 2:6; e 1Tm 2:4
"[Deus] deseja TODOS [os] homens ser[em] salvos e, para dentro do pleno- conhecimento d[a] verdade, vir[em]").
   Acreditamos que toda e cada pessoa, sem exceção, pode ser convertida, e oramos que se arrependa e creia e receba o Cristo como seu Salvador, Deus e Senhor,
    e anele ela mesma ir descobrindo na Bíblia a vontade dEle, e crescentemente a faça com todo amor a Deus.

 

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