A Grande
Desfraternização Entre As Igrejas (c. 215–225 d.C.)
Hélio de
Menezes Silva, abr. 2025.
(Chat GPT ajudou a achar referências e citações, mas a garimpagem e pesagem
das informações, a concepção, esquema e redação são de minha responsabilidade.)
A chamada “Grande
Desfraternização” refere-se a um momento decisivo da história cristã primitiva
— entre os anos 215 e 225 d.C. — em que um número significativo de igrejas
locais rompeu comunhão com a maior, mais rica, poderosa, e dominadora/ influente
igreja, do século III, a de Roma. Essa separação não foi meramente
organizacional, mas teológica, motivada por profundas divergências sobre
questões fundamentais da fé e da prática cristã.
1. Regeneração batismal
A primeira grande divergência dizia respeito à doutrina do batismo. A igreja de Roma passou a sustentar
cada vez mais abertamente que o batismo era um [ou “o”] meio eficaz de regeneração — ou seja, que conferia, por si só, a salvação, mesmo em crianças que não haviam crido. Igrejas mais fiéis ao ensino apostólico rejeitaram firmemente essa ideia como herética, insistindo que a regeneração é obra do Espírito Santo em resposta à fé pessoal (cf. João 1:12–13; Atos 2:41, 8:37).Jo 1:12-13 12 A
tantos, porém, quantos O receberam, Ele deu a estes [a]
autoridade para ser[em] [tornados os]
filhos de Deus, àqueles [que estão]
crendo para dentro de o nome dEle, 13 Os quais não foram nascidos provenientes- de- dentro- de
sangueS, nem provenientes- de- dentro- de vontade de carne, nem provenientes-
de- dentro- de vontade de varão, mas provenientes- de- dentro- de Deus. LTT25-
At 2:41 Portanto, foram submersos aqueles em
verdade havendo recebido de muito bom grado a palavra dele. E foram
adicionadas, naquele mesmo dia, quase três mil almas; LTT25-
At 8:37 E disse Filipos: "Se crês
proveniente- de- dentro- de todo o [teu] coração,
[então] isto
é reto (- seguindo- a- lei)." E, havendo respondido, disse ele: "Eu
creio Jesus Cristo ser o Filho de Deus." LTT25-
Tertuliano, por volta de 198 d.C., advertia contra o batismo de
crianças:
“Deixem que venham [ao batismo] quando forem mais velhos... quando forem
instruídos, quando conhecerem o Senhor... Que eles se tornem cristãos quando
puderem conhecer a Cristo.”
(De Baptismo, cap. 18)
Hipólito de Roma (c. 215 d.C.), crítico das inovações doutrinárias da
própria igreja de Roma, escreveu contra o bispo romano Calisto, acusando-o de
perverter a doutrina ao admitir pecadores não regenerados ao batismo:
“[Calisto] ousa batizar todos indiscriminadamente, mesmo antes de observarem
qualquer arrependimento ou instrução.”
— (Refutação de Todas as Heresias, 9.7)
Orígenes (c. 248 d.C.), embora já defendesse a prática do batismo
infantil, reconhecia que ela não se baseava em ordenança apostólica clara:
“A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de batizar também os pequenos...
ainda que não haja menção explícita nas Escrituras.”
— (Comentário sobre a Epístola aos Romanos, 5.9)
Justino Mártir, cerca de 155 d.C., atesta que na sua época, o batismo
era ministrado após instrução e profissão de fé:
“Aqueles que são persuadidos e creem que o que ensinamos é verdadeiro... são
trazidos a um lugar onde há água e são batizados.”
— (Apologia I, 61)
Novaciano, presbítero de Roma (século III), escreveu que:
“Cristo perdoa os pecados dos que verdadeiramente se arrependem, não dos que
apenas cumprem ritos.”
(Sobre os judeus, fragmento citado por Eusébio, História
Eclesiástica, VI.43)
Essa resistência à
regeneração batismal também aparece mais tarde em confissões anabatistas:
A Confissão de
Schleitheim (1527) afirma:
“O batismo deve ser dado àqueles que, tendo ouvido a pregação, creram,
confessaram sua fé e voluntariamente pediram o batismo.”
(Schleitheim Confession, artigo II)
2. Autoridade da igreja de Roma
O segundo ponto crítico
foi a crescente centralização da autoridade eclesiástica em Roma. O bispo
romano começou a reivindicar primazia universal (sobre todas as igrejas do
mundo), afirmando ser o sucessor de Pedro com autoridade sobre todas as
igrejas. Igrejas locais autônomas — especialmente no Oriente (sob a influência
da Grécia) — resistiram vigorosamente a essa usurpação.
Cipriano, embora visto como um defensor da unidade eclesial,
ainda em 250 d.C. rejeitava abertamente a ideia de uma única cabeça da igreja
visível:
“A autoridade de Pedro não ultrapassou a nenhum outro, para que os outros
apóstolos também não tivessem o mesmo poder.”
— (Carta 71 a Quintus, §3)
Mas o mesmo Cipriano
de Cartago, defensor da centralização, declarou em 251 d.C.:
“Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja
por Mãe... A cátedra de Pedro... é a fonte e raiz da unidade sacerdotal.”
(De unitate ecclesiae, 6)
Em contrapartida, Firmiliano
de Cesareia, em carta a Cipriano, censura o bispo de Roma:
“Eles que se gabam da sucessão apostólica, abandonam a verdadeira fé dos
apóstolos... Não podemos aceitar que um só bispo se imponha sobre todos.”
(Carta de Firmiliano a Cipriano, em Epístolas de Cipriano, 74.6)
Firmiliano, citado anteriormente, reforça:
“Que presunção detestável é essa, que um só homem se arrogue a si mesmo
autoridade sobre todos!”
— (Carta a Cipriano, 74.17)
Tertuliano, já depois de sua ruptura com a grande igreja, ironiza
as pretensões romanas:
“Vocês dizem: ‘Eu tenho a herança de Pedro.’ Onde? Em que lugar? Roma não é
a única sede apostólica.”
— (De Pudicitia, 21)
A separação definitiva
O rompimento entre as
igrejas fiéis às Escrituras e a igreja de Roma foi profundo. Aquelas igrejas fiéis
passaram a considerar Roma uma instituição apóstata, por haver distorcido o
evangelho da graça e usurpado uma autoridade que Cristo jamais conferiu.
O historiador Eusébio
de Cesareia registra vários conflitos e rejeições da autoridade romana, por
igrejas do Oriente [Grécia]. Embora simpatizante de Roma, ele revela tensões
claras e antigas quanto à autoridade episcopal centralizada.
(História Eclesiástica, livros V e VI)
J.M. Carroll, no clássico The Trail of Blood, observa que já
no século II havia igrejas que recusavam submissão a Roma, resistiam ao batismo
infantil e afirmavam a independência [e governo] congregacional.
O historiador batista David
Benedict também identifica essa linhagem:
“Durante toda a Idade das Trevas, existiram igrejas que nunca aceitaram o
papado nem as doutrinas sacramentalistas... Elas batizavam apenas
crentes confessos e se opunham à interferência estatal e episcopal.”
(History of the Baptists, 1813)
O legado da resistência
A “Grande Desfraternização”
lançou a base para a continuidade de igrejas dissidentes que, apesar das
perseguições, mantiveram a fé apostólica. Entre essas linhagens,
destacam-se:
- Montanistas (século II–III): enfatizavam santidade e revelação
contínua, mas rejeitavam sacramentalismo e centralização;
- Novacianos (século III): exigiam pureza na membresia e batismo
somente após arrependimento genuíno;
- Donatistas (século IV): defenderam o batismo somente de
crentes, e a separação da igreja para fora do império romano;
- Paulicianos (século VI–IX): rejeitavam imagens, hierarquia e
batismo infantil;
- Petrobrussianos e Henricianos (século XII): pregavam contra batismo infantil,
missas e culto a imagens;
- Waldenses (século XII–): enfatizavam o evangelismo, a Bíblia
em línguas vernáculas [da população do lugar] e batismo somente de crentes
(cremos que os Waldenses referem-se às igrejas fiéis (a partir de cerca
dos anos 320 dC, século IV) que, mesmo perseguidas de morte, sobreviviam
nos vales dos Alpes da Itália, da Suíça e da França);
- Anabatistas (século XVI): retomaram publicamente o batismo de
crentes por imersão e rejeitaram o poder do Estado sobre a igreja.
Conclusão
A Grande
Desfraternização foi um divisor de águas: uma separação originada por
fidelidade bíblica, não por rebelião. Essas igrejas menores, ainda que
marginalizadas, mantiveram viva a chama da sã doutrina: fé pessoal para
salvação, batismo após arrependimento, autonomia da igreja local, e Cristo como
única Cabeça da igreja.
Linha do Tempo da Resistência à
Romanização da Igreja (Séculos II–XVI)
Ano / Período |
Evento / Grupo |
Características-chave |
c.
198 d.C. |
Tertuliano
escreve De Baptismo |
Rejeita
o batismo infantil e a regeneração automática pelo rito |
c.
215–225 d.C. |
Grande
Desfraternização |
Ruptura
entre igrejas fiéis e Roma sobre regeneração batismal e autoridade |
c.
250 d.C. |
Novacianos
se organizam |
Enfatizam
fé e arrependimento antes do batismo; combatem clérigos ímpios |
c.
251 d.C. |
Cipriano
de Cartago |
Defende
o primado romano e a unidade via “Cátedra de Pedro” |
c.
256 d.C. |
Firmiliano
de Cesareia |
Rejeita
autoridade universal do bispo de Roma |
séc.
IV |
Donatistas
(Norte da África) |
Defendem
batismo de crentes, disciplina eclesiástica, e separação do Estado |
séc.
VI–IX |
Paulicianos
(Armênia e Ásia Menor) |
Rejeitam
batismo infantil, imagens, intercessão dos santos e a autoridade papal |
séc.
XII |
Petrobrussianos
/ Henricianos (França) |
Rejeitam
missa, batismo infantil e autoridade clerical |
séc.
XII–XIII |
Waldenses
(Valdenses) |
Pregam
Bíblia em línguas comuns, batismo de crentes, rejeitam hierarquia |
1527
d.C. |
Anabatistas
– Confissão de Schleitheim |
Batismo
só após fé e confissão voluntária, separação da igreja e Estado |
Referências:
Gilberto Stefano. História das Igrejas
Cristãs.
Gilberto Stefano. O Batismo Bíblico.
Gilberto Stefano. Divisão Do Cristianismo
Original. Desfraternização de Século 3.
Gilberto Stefano. São Crianças Candidatas
Para Batismo.
Gilberto Stefano. Origem dos Batistas E Católicos E Protestantes E
Pentecostais. 2a Edição, 2006.
J.M. Carroll - The Trail of Blood (O Rastro de Sangue)
·
Descrição:
Este livro clássico de J.M. Carroll é uma das fontes mais
conhecidas sobre o movimento das igrejas independentes e dissidentes ao longo
dos séculos, especialmente abordando o tema do "Rastro de Sangue" e a
sucessão de igrejas batistas.
·
Referência: Carroll, J.M. The Trail of Blood: The Story of the Church of the
Martyrs. Arlington, TX: Bible Baptist Bookstore, 1931.
Benjamin Wilkinson - Truth Triumphant
·
Descrição:
Benjamin Wilkinson [embora Adventista 7D] fornece uma visão
detalhada sobre a preservação das Escrituras e a história das igrejas que
resistiram à corrupção da Igreja Romana. Ele explora a continuidade das igrejas
batistas e dissidentes e discute a questão da sucessão apostólica e do batismo
por imersão.
·
Referência: Wilkinson, Benjamin. Truth Triumphant: The Church in the
Wilderness. Washington, D.C.: Review and Herald, 1931.
David Benedict - A General History of the Baptist Denomination in America
·
Descrição:
Este livro fornece um histórico detalhado das origens das igrejas batistas na
América, mas também faz referências às raízes históricas das igrejas
dissidentes na Europa, incluindo Waldenses, Paulicianos e outros. É útil para
compreender o "Rastro de Sangue" em termos mais amplos.
·
Referência: Benedict, David. A General History of the Baptist Denomination in
America. Boston: J. O. B. Thomas, 1813.
Philip Schaff - History of the Christian
Church (Volume II: Ante-Nicene Christianity)
·
Descrição:
O renomado historiador Philip Schaff oferece uma visão
abrangente da história da Igreja Cristã, incluindo os debates sobre a
regeneração batismal e o crescente poder da Igreja de Roma. Ele também discute
as igrejas dissidentes dos primeiros séculos, como os Montanistas, os
Paulicianos e os Waldenses.
·
Referência: Schaff, Philip. History of the Christian Church, Volume II:
Ante-Nicene Christianity, 2nd ed. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans
Publishing Co., 1910.
William R. Roff - The Baptism of the Early Church: A Study of the Baptismal Practices of
the Christian Church in the First Three Centuries
·
Descrição:
Este livro fornece uma análise detalhada das práticas de batismo nos primeiros
séculos da Igreja Cristã, abordando a questão da regeneração batismal e o
batismo por imersão, com foco nas igrejas dissidentes que rejeitaram a prática
sacramentalista.
·
Referência: Roff, William R. The Baptism of the Early Church: A Study of the
Baptismal Practices of the Christian Church in the First Three Centuries. 2nd
ed. London: Theological Publications, 1965.
F. F. Bruce - The Apostolic Fathers (Volume 1)
·
Descrição:
F. F. Bruce fornece traduções e comentários sobre os escritos dos Pais
Apostólicos, muitos dos quais tratam diretamente das disputas sobre batismo,
regeneração batismal e autoridade eclesiástica, com implicações para as igrejas
dissidentes que surgiram nos séculos posteriores.
·
Referência: Bruce, F. F. The Apostolic Fathers (Volume 1). London:
Loeb Classical Library, 1956.
James A. I. McMillan - The Waldenses: A History of the Church in the Valleys of Piedmont
·
Descrição:
Este livro é uma excelente referência para compreender a história das igrejas
Waldenses, desde suas origens até as perseguições que sofreram. McMillan
discute a continuidade das práticas batistas e a resistência contra a Igreja
Romana.
·
Referência: McMillan, James A. I. The Waldenses: A History of the Church in
the Valleys of Piedmont. London: G. Bell & Sons, 1913.
Eusebius de Cesareia - Historia Ecclesiastica (História
Eclesiástica)
·
Descrição:
Embora não seja uma obra moderna, a obra de Eusébio é essencial para o estudo
dos primeiros séculos do cristianismo, incluindo as divisões doutrinárias e os
debates sobre autoridade e batismo. Muitos grupos dissidentes, como os
Montanistas, são mencionados. Mas cuidado, era capacho de Roma, e parece
desonesto muitas vezes.
·
Referência:
Eusébio de Cesareia. Historia Ecclesiastica. Tradução e comentários
por K. C. Hanson, 1962.
E. H. Gifford - The History of the Waldenses
·
Descrição:
Este livro fornece uma narrativa da história das igrejas Waldenses, focando nas
suas origens e na sua persistência contra as adversidades e perseguições.
Gifford também aborda os temas da regeneração batismal e a resistência das
igrejas dissidentes contra Roma.
·
Referência: Gifford, E. H. The History of the Waldenses. London:
James Nisbet & Co., 1858.
Podemos ter mudado
citações da Bíblia para usar a LTT (ou ACF ou KJB-1611);
suprido conteúdo para alguns versos que
só tinham a referência;
adicionado algumas explicações (nossas
ou de outros) entre colchetes "[" "]";
adicionado ênfases por negrito,
sublinhado, itálicas. MAIÚSCULAS, cores,
realces;
removido alguns trechos (não
essenciais ao principal tema específico do artigo) substituindo-os por
reticências "... ... ...";
e, como sempre, lhe lembramos de
que, ao citar qualquer autor, somente
significamos que parte desta obra, em algum modo, reforça algumas posições
nossas, mas não necessariamente concordamos com tudo dele.
Eu não me julgo
melhor e não, já agora, decreto "sentença condenatória" contra
ninguém por causa de raça, nacionalidade, cor, gênero, comportamentos passados
e presentes, status na ordem socioeconômica, etc.,
pois a Bíblia revela que TODOS (a
partir de mim mesmo) somos iguais em estar na única e mesma categoria de PECADORES,
(mas afirma Rm 5:8; 1Tm 2:6; e 1Tm 2:4 "[Deus] deseja TODOS [os] homens ser[em]
salvos e, para dentro do pleno- conhecimento d[a] verdade, vir[em]").
Acreditamos que toda e cada pessoa,
sem exceção, pode ser convertida, e oramos que se arrependa e creia e receba o
Cristo como seu Salvador, Deus e Senhor,
e anele ela mesma ir descobrindo na
Bíblia a vontade dEle, e crescentemente a faça com todo amor a Deus.
[Se você concordar de
coração com que este presente escrito, e achar que ele poderá alertar/
instruir/ edificar, então, por favor, o compartilhe (sem apagar nome do autor,
nem links) com todos seus mais achegados amigos crentes (inclusive pastores e
professores), e que você tenha certeza de que não desgostarão de receber sua
sugestão. Apraza a Deus que cada um que apreciar este escrito o encaminhe a 5
ou mais crentes que ele saiba que não receberão isso com ódio.]
http://solascriptura-tt.org/ ("Somente
a Escritura, o TT:" Guerreando Em Defesa Do Texto
Tradicional (TT = T.Receptus_Scrivener +
T.Massorético_Chayiim), E Da FÉ
(Corpo De Doutrina De Toda A Bíblia)). Biblioteca de muitos milhares
de artigos e livros. Pesquise por categoria ou palavras chaves.
Somente use Bíblias:
a) traduzidas do Texto Tradicional (aquele
perfeitamente preservado por Deus, usado por todos os séculos por todos
os fiéis): LTT (LTT: Bíblia Literal
do Texto Tradicional, com notas para estudo,
na www.bvloja.com.br), ou KJB-1611,
ou ACF;
b) que, para não incorrerem na condenação de Rv 22:18-19, assinalem em itálicas as
palavras acrescentadas pelo tradutor (como implícitas em grego/hebraico, ou
como explicações). Note bem: palavras de Deus (letras normais) são infalíveis,
mas explicações do tradutor (itálicas) são falíveis e v. pode rejeitar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Mesmo que tenham a mesma posição do blog, não serão publicados comentários com agressões pessoais, sem evidenciar o genuíno amor+verdade cristãos.
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.