quarta-feira, 21 de julho de 2021

 

Os Sete Testes De Verdade Usados No Textus Receptus E Explicitados Por Dean Burgon.

[Critérios implicitamente usados pelos compiladores do Textus Receptus (Texto Recebido, ou TR) (isto é: Erasmo 1522-1536, Stephanus, Beza, Elzevier's, etc., até KJB-1611 e Scrivener 1881) ao decidirem entre variantes dos manuscritos gregos para compilarem o Textus Receptus.
Estes critérios foram    a) Explicitados a largo por Dean Burgon, em 1896, em The Traditional Text of the Holy Gospels Vindicated and Established (336 páginas na edição da Amazon); e    b) Resumidos (e bem explicados e exemplificados) em 16 páginas do livro Identity of the New Testament Text II, 2003, Chapter 7 (Determining the Identity of the Text) e da sua tradução no livro Qual O Texto Original Do Novo Testamento, capítulo 7 (Determinando A Identidade Do Texto), por Wilbur N. Pickering, https://www.amazon.com.br/Identity-New-Testament-Text-II/dp/1592442412 ]

 

Wilbur N. Pickering

 

Tradutor: Hélio de M.S., 1998 e 2003

 

 

 

DEFININDO A IDENTIDADE DO TEXTO

 

(capítulo 7 do livrro Qual O Texto Original Do Novo Testamento, de Wilbur Pickering)

 

 

 

         Como arcabouço para a discussão que segue usarei as sete “Marcas da Verdade” de Burgon.  Elas são:

1.   Antiguidade,                                        ou     Primitividade;

2.   Consenso de Testemunhas,             ou     Número;

3.   Variedade de Evidência,                   ou     Universalidade;

4.   Respeitabilidade das Testemunhas,         ou     Peso;

5.   Continuidade,                                               ou     Tradição Ininterrupta;

6.   Evidência da Passagem Inteira,                ou     Contexto;

7.   Considerações Internas,                   ou     Razoabilidade.[1]

8.    

As Marcas da Verdade

 

 

1. Antiguidade, ou Primitividade

 

         Uma leitura, para ser candidata séria a ser a original, deve ser antiga. Se não há atestação [2] para uma leitura antes da Idade Média [3], é improvável que ela seja genuína. No entanto uma palavra de cautela se faz necessária. Não apenas pode antiguidade ser demonstrada por uma única testemunha antiga, mas também pela concordância de um número de testemunhas independentes subsequentes – sua fonte comum teria que ser bem mais antiga. Sturz tem uma boa discussão deste ponto [4] . Mas qualquer leitura que tenha ampla atestação mais recente quase sempre tem também atestação explícita bem anterior.

 

         Para dar uma definição concreta à ideia de “antiguidade”, tomarei o ano 400 d.C. como linha divisória arbitrária. Permitindo somente testemunhas que “falaram” antes dessa data, “antiguidade” incluiria acima de setenta pais; incluiria os Códices À, B, e vários unciais fragmentários; incluiria os papiros mais antigos; e também as versões mais antigas. Como ilustração específica, desde 1881 a palavra “vinagre” em Mateus 27.34 tem sido desprezada como uma leitura “recente, Bizantina” – mas qual é o veredicto do critério de “antiguidade”? Contra “vinagre” estão os Códices À e B, as versões latina e copta, os Atos Apócrifos dos Apóstolos, o Evangelho de Nicodemo, e Macário Magno – sete testemunhas. A favor de “vinagre” estão o Evangelho de Pedro, Acta Philippi, Barnabé, Irineu, Tertuliano, Celso, Orígenes, pseudo-Taciano, Atanásio, Eusébio de Emesa, Teodoro de Héracla, Dídimo, Gregório de Nissa, Gregório Nazianzo, Efrém Sírio, Lactâncio, Tito de Bostra, e a versão siríaca – dezoito testemunhas [5] . As testemunhas a favor de “vinagre” são tanto mais antigas quanto mais numerosas que aquelas a favor de “vinho”.

         Naturalmente grande idade, por si só, não é suficiente, já que a maioria dos desvios significativos datam do segundo século. O que estamos procurando é a leitura mais antiga, a original, e para julgarmos entre leituras antigas que competem entre si, precisamos de outras considerações.

 

 

 

2. Consenso de Testemunhas, ou Número

 

         Uma leitura, para ser candidata séria a ser a original, dever ser atestada pela maioria absoluta das testemunhas independentes. Favor lembrar a discussão [no capítulo anterior] sobre o pesar e o contar das testemunhas. Uma leitura atestada por somente poucas testemunhas é improvável de ser genuína – quanto menos forem as testemunhas menor será a probabilidade [da leitura ser a original]. Por outro lado, quanto maior for a maioria mais provavelmente certa é a originalidade da leitura assim atestada. Sempre que o texto tem atestação unânime, a única conclusão razoável é que ele certamente é original. [6]

 

         Até mesmo Hort reconheceu o peso inerente a maioria absoluta: “Uma pressuposição teórica verdadeiramente permanece: que uma maioria de documentos existentes é mais provável de representar uma maioria de documentos ancestrais, a cada etapa de transmissão, do que o contrário.” [7] O trabalho dos que já fizeram colação extensa de MSS tende a confirmar esta hipótese. Assim Lake, Blake e New acharam apenas filhos órfãos entre os MSS que colacionaram, e declaram ademais que quase não existiam irmãos – cada MS é “filho único.” [8] Isto significa que eles são testemunhas independentes, na própria geração deles. Nas palavras de Burgon:

 

. . . dificilmente qualquer deles foi copiado de qualquer um dos restantes. Ao contrário, descobre-se que diferem entre si em incontáveis detalhes sem importância; e de vez em quando cópias isoladamente trazem idiossincrasias que são totalmente surpreendentes e extraordinárias. Portanto, é demonstrável não existir qualquer conluio conspiratório – nenhum ajustamento a um padrão arbitrário – nenhuma fraude maciça. É certo que cada um representa um MS (ou uma linhagem de MSS) mais antigo que ele próprio, e não é senão justo supor que ele exercita tal representação com acurácia satisfatória. [9]

 

         De acordo com a boa prática jurídica, é injusto declarar arbitrariamente que os ancestrais não eram independentes; algum tipo de evidência tem de ser exibida [antes de se poder isso]. Já foi demonstrado que a “evidência genealógica” de Hort, com referência aos MSS, é fictícia. Mas é verdade que concordância em uma leitura implica origem comum, a não ser que seja o tipo de engano que diversos escribas possam ter feito independentemente. O que se considera aqui é a origem comum de leituras individuais, não a dos MSS, mas onde vários MSS compartilham grande número de leituras peculiares a si próprios, evidentemente sua pretensão de serem independentes fica completamente comprometida.(O “Método Claremont de [traçar] Perfis” [10] promete ser um instrumento eficaz para traçar o relacionamento entre MSS.)

 

         No entanto, existe uma situação onde igualdade de leitura não compromete independência. Se a origem comum de uma leitura é a original, então os MSS que a têm não podem ser desqualificados; a pretensão deles à independência permanece incontaminada. Naturalmente não sabemos, neste estágio da investigação, qual é a leitura original, mas alguma ajuda negativa é imediatamente disponível. Se uma (ou mais) das variantes em competição é um erro óbvio, então os MSS que atestam tais variantes são desqualificados, naquele lugar só (lembrar que genealogia seria baseada sobre concordância em erro).

 

         Quanto ao restante, a história da transmissão torna-se um fator importante, mas para esboçá-la com confiança havemos de levar em conta pelo menos duas considerações adicionais. Nesse meio tempo o status de “independente”, dado aos MSS concordando quanto a leituras que podem ser originais, deve ficar como que “de molho” – não há, ainda, evidência suficiente para desqualificá-los.

 

 

3. Variedade de Evidência, ou Universalidade

 

         Uma leitura, para ser candidata séria a ser a original, deve ser atestada por ampla variedade de testemunhas. Por variedade se quer dizer, em primeiro lugar, muitas áreas geográficas, mas também diferentes espécies de testemunhas – MSS, pais, versões, e lecionários. A importância da “Variedade” é bem estabelecida por Burgon:

 

Variedade, distinguindo testemunhas amontoadas juntas, certamente constitui um argumento bastante poderoso para se crer que tal Evidência é verdadeira. Testemunhas de diferentes espécies, de países diferentes, falando línguas diferentes – testemunhas que não podem jamais ter se encontrado, e entre as quais é inimaginável que tenha havido conluio de qualquer tipo – tais testemunhas merecem ser ouvidas com muito respeito. Na verdade, quando testemunhas de tão variados tipos concordam em grande número, devem ser consideradas merecedoras até mesmo de confiança implícita. ... Variedade é que confere virtude a mero Número, impede a urna de ser enchida de cédulas fraudulentas, assegura testemunho genuíno. Testemunho falso é assim detectado e condenado, porque não concorda com o restante. Variedade é o consenso de testemunhas independentes, ...

É precisamente esta consideração que nos constrange a prestar suprema atenção ao testemunho combinado dos Unciais e de todo o corpo das Cópias Cursivas. Elas:

a) estão espalhadas por um período de pelo menos 1000 anos;

b) evidentemente pertencem a tantas regiões diversas (Grécia, Constantinopla, Ásia Menor, Palestina, Síria, Alexandria, e outras partes da África, para não mencionar Sicília, Sul da Itália, Gáulia, Inglaterra, e Irlanda);

c) exibem tantas características estranhas e empatias peculiares;

d) tão claramente representam incontáveis famílias de MSS, que não são em nenhuma instância absolutamente idênticos em seus textos, e certamente não são cópias de nenhum outro Códice em existência

– que a decisão unânime delas eu asseguro ser evidência absolutamente irrefutável da Verdade. [11]

 

         Variedade nos ajuda a avaliar a independência das testemunhas. Se as testemunhas que apresentam uma leitura em comum vêm de uma única área geográfica, digamos Egito, então sua independência tem que ser duvidada. Parece bastante irrazoável supor que uma leitura original sobreviveria em apenas um local limitado. Se a história da transmissão do texto foi normal em geral, como creio que foi, então havemos de concluir que uma leitura encontrada apenas em uma área limitada não pode ser a original. Segue-se que testemunhas que apoiam tal leitura são desqualificadas, tanto quanto aquelas que apoiam erros óbvios – elas não são independentes, naquele ponto. Elas são desqualificadas como testemunhas independentes, mas o testemunho combinado delas ainda conta como um voto: seu ancestral comum ainda é uma testemunha independente.

 

         Como Burgon menciona, é variedade que empresta validade a número, porque variedade implica independência. Por outro lado, falta de variedade implica dependência, razão pela qual uma leitura sem variedade de atestação pouco se impõe à nossa confiança. É um testemunho eloquente dos efeitos soporíficos da teoria de W-H (com sua “genealogia”) que a erudição acadêmica subsequente tem grandemente ignorado o fator de variedade em atestação. Tem havido um murmúrio de inquietação ocasional,[12] mas nada que se aproxime de um reconhecimento da verdadeira posição que “Variedade” deveria ter na prática da crítica textual do NT. Burgon declarou o óbvio quando disse:

 

Falando em geral, o testemunho consensual de dois, quatro, seis, ou mais testemunhas, proveniente de regiões largamente separadas, é de longe mais pesado que o mesmo número de testemunhas procedentes da mesma localidade, entre as quais provavelmente existe algum tipo de empatia, e possivelmente algum grau de conluio.[13]

 

         Intimamente associado a variedade é o fator de continuidade.

 

 

4. Continuidade, ou Tradição Ininterrupta

 

         Uma leitura, para ser candidata séria a ser a original, deve ser atestada através das eras de transmissão, do princípio ao fim. Se a história da transmissão do texto foi de algum modo normal, esperaríamos que a redação original “deixasse rastros da sua existência e do seu uso através das eras.” [14]  Se uma leitura ou tradição morreu no quarto ou quinto século, temos o veredicto da História contra ela. Se uma leitura não tem nenhuma atestação antes do século XII, seguramente é uma invenção recente. [15]

 

         Onde há variedade, quase sempre há continuidade também, mas não são considerações idênticas. Continuidade também nos ajuda a avaliar a independência das testemunhas. Leituras que existem na forma de pequenos remansos à margem do fluxo do rio “Bizantino”, nesses pontos condenam como dependentes as suas [testemunhas] sustentadoras. Leituras que gozam tanto de variedade como de continuidade de atestação, defendem a independência das suas [testemunhas] sustentadoras. A não ser que haja alguma demonstração objetiva em contrário (tal como Hort alegou para “genealogia”) não é justo rejeitar a independência de tais testemunhas. Elas têm direito a voto. A conclusão crítica é esta: A maioria dos MSS existentes emerge como testemunhas independentes, em suas gerações, e têm que ser contados enquanto a falta de colações completas não permita um agrupamento empírico, como F. Wisse fez em Lucas 1, 10, e 20. [16]

 

         Hort, seguido por Zuntz e outros, [17] rejeitou esta consideração [de continuidade] taxativamente. Mas o leitor tem agora alguma condição para julgar por si mesmo. Uma vez que não houve nenhuma revisão autoritativa do texto em 300 d.C. (ou em qualquer outra ocasião), e já que a evidência indica uma história de transmissão razoavelmente normal, como pode a validade de “continuidade” como “marca da verdade” ser racionalmente negada? Ao meu ver, os fatores de número, variedade e continuidade formam a espinha dorsal da sã metodologia de crítica textual. Eles formam uma trança de três cordas que não se rompe facilmente. Mas há várias outras considerações que são úteis, a seu tempo e modo.

 

 

5. Respeitabilidade das Testemunhas, ou Peso

 

         Enquanto as quatro “marcas” prévias se concentraram nas leituras, esta se centra nas testemunhas. Enquanto as “marcas” de número, variedade e continuidade nos ajudaram a avaliar a independência das testemunhas, esta se ocupa da credibilidade de uma testemunha, julgada por seu próprio comportamento. “Quanto ao Peso associado a Cópias separadas, ele tem que ser determinado principalmente pela observação das suas evidências. Se as Cópias são continuamente achadas em erro, os seus caráteres devem ser vis. Elas são governadas, neste respeito, pelas regras que funcionam na vida [de forma geral].” [18]

 

         A evidência acima oferecida na discussão dos MSS mais antigos e sobre o pesar versus o contar terá que ser suficiente para ilustrar tanto a importância como a aplicabilidade desta “marca” [a respeitabilidade das testemunhas]. Podemos mostrar de forma objetiva e estatística que os MSS mais antigos estão habitualmente errados, e portanto são testemunhas de caráter muito baixo.  Seus quocientes de respeitabilidade pairam próximos de zero. A grande idade deles torna o seu comportamento mais repreensível. Mais precisamente, não consigo ver como alguém pode ler com atenção Codex B and its Allies, de Hoskier, e ainda manter respeito por B [Vaticanus] e À [Sinaiticus] como testemunhas do texto do NT – pode-se dizer de ambos: “pesado foste na balança, e foste achado em falta”.

 

         Visto que os textos críticos e ecléticos da atualidade baseiam-se precisamente em B e À e nos outros manuscritos mais antigos, todos guias cegos, fica claro que os estudiosos modernos têm severamente ignorado a consideração de respeitabilidade, como critério objetivo. Contudo, afirmo que esta “marca da verdade” tem de ser levada a sério: o resultado será a completa derrota do tipo de texto presentemente em voga.

 

 

6. Evidência da Passagem Inteira, ou Contexto

 

O “contexto” aqui referido não é o que geralmente se entende pela palavra, mas se relaciona com o comportamento de certa testemunha na vizinhança imediata do problema sendo considerado. É uma aplicação limitada e específica da “marca” anterior [5. Respeitabilidade].

 

Com respeito à exata forma de linguagem empregada, em cada caso será também uma salutar precaução contra erro: inspecionar com severo rigor crítico o inteiro contexto da passagem em disputa. Se em certos Códices aquele contexto vier a ser provado estar confessadamente em um estado muito adulterado, então se torna realmente auto-evidente que esses Códices só podem ser admitidos como testemunhas com considerável suspeita e reserva. [19]

 

         Uma excelente ilustração da necessidade deste critério é fornecida pelo Códice D, nos três últimos capítulos de Lucas – a cena das famosas “não-interpolações Ocidentais” de Hort. Depois de discutir dezesseis casos de omissão (onde W-H omitiram material presente no TR) nestes capítulos, Burgon continua:

 

A única autoridade para exatamente metade [sendo explícito: Lucas 22:19-20; 24:3, 6, 9, 12, 36, 40, 52] dos locais acima enumerados é um único códice em grego – e este é o mais depravado de todos – a saber, o [códice] D, de Beza. Ademais, deve ser dito que os únicos aliados que se pode descobrir para D são umas poucas cópias da velha [versão em] latim. ... Quando tiramos Códice D da prateleira, somos lembrados que dentro do espaço dos três capítulos do Evangelho de São Lucas que estão agora sob consideração há em somente por D [nenhum outro mss as omite de tal modo]. Alguém poderia explicar-nos por que, destas 354 palavras, somente 25 são escolhidas pelos Drs. Westcott e Hort para permanente erradicação do Texto Sagrado? Dentro dos mesmos 3 capítulos, não menos que 173 palavras foram adicionadas por D ao Texto geralmente Recebido – 146 palavras foram substituídas – 243 foram transpostas. Seria permissível perguntar porque destas [173+146+243=] 562 palavras, nenhuma foi promovida pelos Revisionistas para aparecer sequer na margem do seu texto? [20]

 

         Estamos aqui enfocando Westcott e Hort. De acordo com seu próprio julgamento, códice D omitiu [354-25=] 329 palavras do texto genuíno dos últimos três capítulos de Lucas, além de ter adicionado 173, substituído 146 e transposto 243 palavras. Pela própria admissão deles, o texto de D está aqui em um estado fantasticamente caótico; todavia, em oito locais eles [W-H] omitiram material do texto baseando-se só na autoridade de D! Com o escriba numa orgia desenfreada de omissões, para não dizer nada das suas outras iniquidades, como pode qualquer valor ser dado ao testemunho de D nestes capítulos, muito menos preferi-lo acima da voz unida de cada uma das outras testemunhas?!?!

 

Esta Marca da Verdade tem por fundamento a bem conhecida lei que erros tendem a ser repetidos na mesma ou em outras formas. O desleixo, ou a atmosfera viciada, que leva um copista a distorcer uma palavra, seguramente o levará a erro em outra palavra. A falta de dedicação que sugeriu uma má correção muito provavelmente não parou ali. E os erros cometidos por uma testemunha pouco antes ou pouco depois do testemunho que está sendo peneirado não podem senão ser tidos como intimamente relevantes à investigação. [21]

 

         À parte da razoabilidade patente da assertiva de Burgon, os estudos de Colwell nos P45, P66 e P75, têm demonstrado que a assertiva é verdadeira. Já temos visto como Colwell foi capaz de dar uma clara e diferente caracterização a cada um dos três copistas, com base no padrão dos seus erros. [22] Aqui, novamente, esta “marca da verdade” parece ser completamente ignorada pelos estudiosos atuais. Por que?  Não é óbvia sua validade?

 

 

7. Evidências Internas, ou Razoabilidade

 

         Esta “marca” não tem nada a ver com a “evidência interna” da qual tanto temos ouvido. Ela é aplicável apenas raramente por ter a ver com leituras que são gramatical, lógica, geográfica, ou cientificamente impossíveis. Burgon considerou que:

pantwn [adj pl neut gen], a leitura de B,D em Lucas 19.37, é uma impossibilidade gramatical; [E, chegando Ele vizinho, já na descida do Monte das Oliveiras, [enquanto] regozijando toda a multidão dos [Seus] discípulos, eles começarAM a louvar a Deus em alta voz, por causa de todas [as] obras- de- poder [subst pl fem gen] que viram,

à       ]

à       kardiaij, a leitura de À,A,B,C,D, etc. em 2 Coríntios 3.3, é uma impossibilidade lógica;

à       ekaton exhkonta, a leitura de À,K,N,Q,P em Lucas 24.13, é uma impossibilidade geográfica;

à       eklipontoj, a leitura de P75,À,(B)C,L em Lucas 23.45,[23] é uma impossibilidade científica (a Páscoa sempre coincide com uma lua cheia, e uma lua cheia nunca pode eclipsar o sol);

à       autou, a leitura de À,B,D,L em Marcos 6.22, é uma impossibilidade histórica (ela contradiz ambos Mateus e Josephus) [24]

 

         Eu gostaria de oferecer oj [aquele], a leitura de À e três cursivos em 1 Timóteo 3.16, como um excelente exemplo de impossibilidade gramatical – trata-se de um pronome relativo nominativo sem nenhum antecedente no contexto;  encaro a alegação de que veio de um hino primitivo como sem nenhum fundamento, um esforço desesperado para salvar uma leitura obviamente má. A seção seguinte oferece exemplos adicionais.

 

         Embora Burgon aparentemente limitasse o uso desta “marca” a leituras que considerava praticamente impossíveis, irei expandi-la na direção do que normalmente se entende por “razoabilidade”, a saber as exigências do contexto, que considero ser uma consideração importante. Uma variante que esteja em discordância com o contexto é suspeita.

 

Exemplos e Implicações

 

         A primeira edição deste livro [em Inglês] foi criticada por não conter nenhum exemplo mostrando como estes princípios [as 7 “marcas” acima] se aplicam a casos específicos. A primeira revisão incluiu os apêndices D e E, que aliviaram um pouco a crítica. Nesse meio tempo, meu pensamento sobre este assunto tem amadurecido consideravelmente, em parte por causa de pesquisa significante que se tornou disponível nesse ínterim. Por isso, agora proponho discutir alguns exemplos específicos – cada um oferece alguma dificuldade que tem implicações teóricas, e estas serão discutidas. Uma pergunta fundamental para a teoria do Texto Majoritário é esta: “Existe um piso acima do qual uma leitura pode ser considerada segura; isto é, acima de dúvidas razoáveis?” Pessoalmente, tendo a considerar 80% dos MSS como tal piso; creio que outros se tranquilizariam com 70%. Mas que faremos se a atestação cair abaixo de 70% dos MSS, ou abaixo de 60%, ou de 50%? Creio que temos que concordar com Burgon que o fator de número não pode ser o único critério.

1) Exemplo – Lucas 3.33

 

         De acordo com o International Greek New Testament Project, quanto a Lucas, cerca de 60% dos MSS gregos inserem tou Iwram entre “Arão” e “Esrom”.[25] Mas, de 27 unciais existentes, somente 9 incluem “Jorão”; [os outros] 18 não incluem e são sustentados pelas três Versões mais antigas. (“Jorão” foi provavelmente uma adulteração de “Arão” [pelo ancestral do MS 1542] que foi subsequentemente conflado com ele; a conflação sobrevive em um amplo segmento da tradição “Bizantina”, que neste ponto está seriamente dividida.)

1) Implicações

 

         “Jorão” tem uma clara atestação majoritária, mas ela é fraca. Porém, o manuscrito mais antigo conhecido que inclui “Jorão” é do século VIII; todos os MSS de data anterior não o trazem. Em termos das “Marcas da Verdade” de Burgon, “Jorão” ganha em “Número” mas perde em “Antiguidade”, “Variedade” e “Continuidade”. Creio que Burgon concordaria que “Jorão” deve ser visto como uma interpolação.

2) Exemplo – Atos 23.20

 

         O Institut fur neutestamentliche Textforschung, em Munster, Alemanha, publicou uma colação quase que completa dos MSS disponíveis, para selecionados conjuntos de variantes em Atos. Isto permite uma relação de evidências diferente da que se vê comumente – este e os seguintes exemplos de Atos baseiam-se naquela fonte.[26] A evidência se apresenta desta forma:

 

1)  mellonteV   --{TR}f35,lat,syr,sa                160 MSS = 33,1%

2)  mellonta    --{HF}                                   130    "    = 26,9%

3)  mellontwn  --                               (3)82    "    = 17,6%

4)  mellwn       --P74AB,bo                             45    "    =   9,3%

5)  mellon       --{NU}À                                  36    "    =   7,5%

6)  mellontaV  --                                            (1)25     "   =   5,4%

              (um outro)  --                                      1        =   0,2%

                                                                             483 MSS

 

         Um quadro angustiante – que fazer? Para começar, as variantes são todas formas de particípios do mesmo verbo [mellw = estar ao ponto de fazer]. A chave parece ser o que se percebe como o referenciado ou antecedente do particípio: é ele “os judeus”, “o Sinédrio”, ou “o tribuno”? A melhor resposta, do ponto de vista gramatical, é evidentemente “os judeus”, o que exigiria a forma plural, nominativa, masculina – o único candidato é a variante 1. No entanto, houve aqueles que tomaram o referenciado como “o Sinédrio” – os MSS Alexandrinos têm sunedrion próximo ao particípio, separados somente por wj. A gramática exige uma forma singular, acusativa, neutra – variante 5. Mas o Sinédrio era formado por homens, assim alguns talvez decidiram que seria mais apropriado optar por uma variante plural – variante 2; e talvez mesmo optar por uma forma masculina além de plural – variante 6. Variante 3, sendo um caso genitivo, é realmente estranha, a não ser que, de alguma forma, alguém pensou que o tribuno tenha intencionado inquirir o Sinédrio, visto como plural. Variante 4 presumivelmente toma “o tribuno” como o referenciado, mas põe a forma no nominativo mais ou menos ad sensum, já que se é acusativo. Mas variante 2 também pode dizer respeito ao tribuno, precisamente masculino, acusativo singular.

 

         Quais são as exigências do contexto? “O tribuno” como o referenciado não se adequa [ao contexto]: Não apenas não foi sua ideia [mandar trazer Paulo ao Conselho para inquiri-lo, no dia seguinte], como também enviou Paulo embora naquela mesma noite, para impedir a possibilidade. (Que os judeus devam ter tentado dizer ao tribuno o que estava na mente dele é difícil de acreditar.) “O Sinédrio” como referenciado também não se ajusta: to sunedrion aparece no texto como o objeto de uma preposição, não como um agente ativo-iniciador. É “os judeus” que é o sujeito do verbo principal, e portanto dos dois infinitivos, e nosso particípio está trabalhando com o segundo infinitivo, “como uns tencionando inquirir.”

 

         Conclusão: a variante 1 é a única que realmente se adequa ao contexto; é também a melhor atestada. Embora somente ajunte 33,1% dos votos (incluindo f35), é também atestada pelas três versões antigas – sempre um testemunho de peso.

2) Implicações

 

         Embora o Texto Majoritário seja geralmente atestado por mais de 95% dos MSS, vez por outra temos uma surpresa desagradável onde de modo algum há uma leitura majoritária. Este exemplo é tão seriamente dividido quanto qualquer outro que eu tenha visto. Mesmo assim, nossas “marcas da verdade” nos permitem alcançar uma conclusão convincente. “Número” nos falha, mas não “Antiguidade”, “Variedade”, nem “Continuidade”. Embora variantes 4 e 5 sejam antigas, variante 1 também é, e esta ganha em “Variedade” e “Continuidade”; ganha também em “Razoabilidade”. Assim estou tranquilamente satisfeito que mellontej é a leitura original.

3) Exemplo – Atos 21.8

 

         A evidência se apresenta desta forma:

1) oi peri ton paulon hlqon          --{TR,HF}                                       (1)218 MSS  = 46,3%

2) --  --   --      --      hlqomen      --{NU}P74(B)Cf35,syr,cop                     (4)180     "     = 38,9%

3) oi peri ton paulon hlqomen       --                                                     (1)62     "     = 13,3%

4) oi apostoloi apo turou hlqon  --                                                       [3](1)1     "     =  1,1%

     (uma outra leitura)               --                                                             2     "     =  0,4%                                                                                                                                                473 MSS

 

         A variante 3 parece ser uma conflação não muito feliz. A variante 2 [“nós chegamos”] é a que melhor se adequa ao contexto – desde o começo do capítulo, e antes, os principais participantes têm sido apresentados na 1ª pessoa plural. O verbo finito mais próximo, em cada lado da variante em foco, é emeinamen, 1ª pessoa plural. A informação na variante 1 é desnecessária mas não objetável: se a variante 1 fosse original não haveria necessidade de mudá-la. Naturalmente, se a variante 2 fosse original, também não haveria necessidade de mudá-la, a não ser que alguns sentiram que era tempo de relembrar o leitor a quem “nós” se referia. Mais provavelmente a variante 1 existe por influência dos lecionários, uma vez que eles trazem precisamente esta variante. Já que os MSS estão bem divididos, a concordância de todas as três versões mais antigas torna a variante 2 a melhor atestada. (Novamente, f35 concorda com uma tradição antiga.)

3) Implicações

 

         Mais uma vez, não temos uma leitura majoritária, embora a divisão não seja tão má quanto no exemplo antecedente. “Antiguidade” e “Variedade” estão claramente com a variante 2, e assim “Continuidade” também está mais com 2 que com 1, presumivelmente. Concluo que variante 2 tem o melhor direito de ser impresso no texto.

4) Exemplo – Atos 13.42

 

         A evidência se apresenta desta forma:

 

1)  de ek thV sunagwghV twn ioudaiwn            --{TR,HF}f35                                [1](1)285 MSS = 60,2%

2) de autwn                                                  --{NU}P74ÀABCD,lat,syr,cop           (1)77     "   = 16,4%

3) de autwn ek thV sunagwghV twn ioudaiwn --                                             [13]98     "   = 23,3%

     (uma outra leitura)                                    --                                                              1     "   =   0,2%                                                                                                                          477 MSS

 

         Creio que este conjunto de variantes deve ser considerado juntamente com a presença de ta eqnh  depois de parekaloun, mas o grupo de Aland não incluiu o segundo conjunto. No entanto, de UBS3 parece que o mesmo rol de testemunhas [da variante 2 do exemplo antecedente], incluindo as três versões antigas (!), traz a variante 2 e omite “os gentios”. Onde está, então, o sujeito do verbo principal parekaloun? Presumivelmente, segundo aquelas testemunhas, seriam os judeus e prosélitos que tinham acabado de ouvir Paulo e queriam ouvir tudo de novo no próximo sábado. Então, por que são eles (judeus e prosélitos) explicitamente mencionados novamente, no verso 43? E em que base iria “toda a cidade” aparecer na próxima semana (v. 44)? Mas, voltando ao verso 42, a troca de quê iriam os primeiros ouvintes desejar ouvir a mesma coisa (ta rhmata tauta) novamente? Os realmente interessados se aderiram a Paulo e Barnabé para aprender mais (v. 43), exatamente como esperaríamos.

 

         As testemunhas das variantes 1 e 3 juntam-se no apoio a “os gentios”, formando uma maioria forte (acima de 80%). Assim, o sujeito de parekaloun é ta eqnh— eles desejam uma chance de também ouvir o evangelho, e toda a cidade se ajunta. Isto se adequa perfeitamente ao contexto. Deste modo, a variante 3 parece ser uma conflação e a leitura básica é a variante 1. [Se a variante 3 fosse vista como original, a variante 2 poderia ser o resultado de homoioteleuton, mas não a variante 1.]  As testemunhas da variante 3, porque têm “os gentios”, estão realmente do lado da variante 1, não 2, daí, presumivelmente, 1 pode ser vista como tendo 80% de atestação. Quanto às testemunhas da variante 1, o antecedente ou referente de exiontwn tem que ser o grupo de Paulo, uma vez que os gentios com toda probabilidade dirigiriam seu pedido ao mestre.

 

         Na variante 2 autwn presumivelmente serve como sujeito de ambos o particípio e o verbo principal, mas naquele caso o verbo principal deveria tomar precedência e o pronome deveria ser nominativo, não genitivo. Explique como alguém queira explicar a motivação para uma tal mudança – de 1 para 2 e eliminando “os gentios” – a variante 2 é evidentemente errada, mesmo sendo atestada pelas três versões primitivas (o que me perturba). Talvez alguém, defrontado pela variante 1, tomou “dos judeus” como sendo o referenciado pelo particípio em vez de modificar “sinagoga” (como na NKJV), e pensou que também deveria ser o sujeito do verbo principal – então, naturalmente, a frase “os gentios” não cabia mais e foi eliminada. Então 1 poder ter sido abreviada para 2, por “clareza”.

4) Implicações

 

         Desta vez temos uma leitura majoritária, embora não tão forte quanto poderíamos desejar.  “Antiguidade” e “Variedade” estão com a variante 2, embora f35 também confira “Antiguidade” à variante 1 e portanto 1 ganha em “Continuidade”. Mas “Contexto” (o desempenho dos MSS no contexto próximo) entra em cena desta vez – claramente favorece variante 1, como o faz “Razoabilidade” – ela nos habilita a dizer que a atestação de 3 realmente vai para 1 e não 2, assim 1 termina com mais de 80% de atestação. Em suma: a variante 1 tem “Número”, “Continuidade”, “Contexto”, “Razoabilidade” e “Antiguidade”; a variante 2 tem “Antiguidade” e “Variedade”. Concluo que o texto original trazia: exiontwn de ek thj sunagwghj twn ioudaiwn parekaloun ta eqnh, etc.

5) Exemplo – Atos 24.6b-8a

 

         A evidência se apresenta desta forma:

 

1)   (sem a longa adição) --{HF,NU}P74ÀABf35,latpt, cop     280 MSS = 58,1%

 

2)-31): kai kata ton hmeteron nomon hqelhsamen krinai parelqwn de lusiaj o ciliarcoj meta pollhj biaj ek twn ceirwn hmwn aphgagen keleusaj touj kathgorouj autou ercesqai epi se. Os cinco principais [grupos de] variações se centram nas três palavras sublinhadas, e são:

2)   krinai  . . . epi se     --latpt,syr                  (6)42 MSS =  10%   [7 variantes]

9)   krinai  . . . epi sou  --                             (15)26     "    =  8,5% [8 variantes]

17) krinai  . . . proV se  --                              (22)8     "    =  6,2% [9 variantes]

26) krinein . . . epi sou  --                              (2)18     "    =  4,1% [3 variantes]

29) krinein . . . epi se    --{TR}                         (5)4     "    =  1,9% [3 variantes]

32) substitui aphgagen por cinco palavras, mais duas outras mudanças:

      krinai  . . . epi sou--                                 (6)15     "    =  4,4% [6 variantes]

38) completamente remaneja o material:

       krinai  . . . proV se--                      (2)11     "    =  2,7% [3 variantes]

 (doze variantes adicionais)--                  20     "    =  4,1%

                                                         482 MSS

         A variante 2 presumivelmente tem o melhor direito de ser a forma padrão da adição: krinai bate krinein( epi bate proj( se  bate sou. Ela também é atestada por syr e latpt. No entanto, embora alguma forma da adição domine 41,9% dos MSS, existem nada menos que 51 variantes!

 

         E o contexto? A adição faz bom senso, e se ajusta agradavelmente. Mas não é realmente necessária; aquela informação, Felix já a sabia. O texto também flui muito bem sem a adição. Deduzo que a forma curta foi julgada abrupta ou incompleta, dando origem à adição; presumivelmente o Autógrafo não a continha. Sendo que Tertuliano foi um orador, ele talvez tenha dito o que está na adição, de fato, além de outro tanto, mas será que Lucas realmente a escreveu?

5) Implicações

 

         A evidência externa, embora dividida, é adequada para resolver este caso: 58,1% contra um 41,9% severamente fragmentado. As versões antigas, estando divididas, não ajudam muito desta vez. Embora 58% não seja de modo algum uma maioria forte, mesmo assim a severa fragmentação dos 42% de algum modo deixa a variante 1 sem um oponente idôneo. A variante 1 ganha em “Antiguidade”, “Número”, “Variedade”, e “Continuidade”; portanto não tenho dúvidas de que ela é o original. (A leitura do TR, variante 29, realmente tem pouco que a recomende.)

6) Exemplo – Atos 15.34

 

         A evidência se apresenta desta forma:

1)   - - -     --  --   - - -      - - -       - - -   --{HF,NU}P74ÀABf35,syp,bo        339 MSS = 70,5%

2) edoxen de tw Sila epimeinai autou  --{TR}(itpt)syh?,sa                [2](12)83    "    = 20,2%

3)                                      autoqi --                                           (3)33    "    =   7,5%

4)      "      "   "      "         "       autouV --C(D,latpt)                                      (4)2    "    =   1,2%

     (três outras leituras)                  --                                                    3    "    =   0,6%                                                                                                                                                   481 MSS

 

         UBS e H-F concordam que a variante 1 é correta, e na verdade o verso 33 parece exigir que Silas tenha retornado a Jerusalém: “eles foram enviados de volta ... aos apóstolos”, onde “eles” se refere a Judas e Silas. O “problema” é que, no verso 40, Paulo escolhe Silas para acompanhá-lo; então este tinha de estar em Antioquia, não em Jerusalém. Consequentemente, a leitura mais longa foi criada para resolver o “problema”. Os “alguns dias” do verso 36 podem bem ter sido um ou dois meses. De Antioquia para Jerusalém seria uma viagem de alguns 650 km. Silas teve tempo de ir a Jerusalém e voltar a Antioquia.

6) Implicações

 

         “Razoabilidade” se faz sentir aqui: a variante 2 introduz uma contradição, a qual, infelizmente, o TR perpetua. Variante 1 também ganha em “Número” e “Continuidade”. “Antiguidade” e “Variedade” estão divididas. Consequentemente, com uma maioria de 70,5%, a variante 1 é a melhor candidata para ser a leitura original.

7)Exemplo – Atos 12.25

 

         Este é o último exemplo tirado de Atos, e um que considero ser especialmente difícil (tendo o potencial de ser danoso). A evidência se apresenta desta forma (arbitrariamente negligenciei margens e corretores, exceto para os unciais mais antigos):

 

1)  eiV Ierousalhm                       --{HF,NU}ÀB(f35=30mss)          281 MSS = 59,7%

2)  apo Ierousalhm                     --D(f35=6mss)lat(syh)                  51     "    = 10,8%

3)  ex  Ierousalhm                      --{TR}P74A     bo (syh)                16      "    =   3,4%

4)  ex  Ierousalhm   eiV Antioceian   --(f35=5mss)  sa (syp)                  57     "    = 12,1%

5)  apo Ierousalhm eiV Antioceian   --(f35=10mss) itpt(syp)                 36      "    =  7,6%

6)                      eiV Antioceian   --(f35=21mss)                         24      "    =  5,1%

7)  eiV Ierousalhm  eiV Antioceian    --                                                3      "    =  0,6%

      (três outras leituras)              --                                               3      "    =  0,6%                                                                                                                                      471 MSS

 

         Há na verdade uma leitura majoritária, embora fraca, mas dentro do contexto ela dificilmente pode estar correta.[27] Considere:

 

a)   Atos 11.30, o kai epoihsan aposteilantej( “o que eles também fizeram, tendo enviado ..., por B. e S.” Um particípio aoristo é anterior em tempo ao seu verbo principal, neste caso também aoristo – o propósito deles é declarado como realizado. O autor claramente implica que a oferta de fato chegou à Judéia/Jerusalém.[28] Note que o verso seguinte (12.1) nos coloca em Jerusalém.

 

b)  Atos 12.25 (12.1-24 não é relacionado, exceto que vv. 1-19 tomam lugar em Jerusalém), Barnabaj kai Sauloj – a ação inclui ambos [Barnabé e Paulo].

 

c)   Atos 12.25, upestreyan)))plhwsantej thn diakonian, “eles retornaram ... tendo cumprido a missão”. Novamente, tanto o particípio como o verbo principal são aoristos, e ambos estão no plural.  “Tendo cumprido a missão” define o verbo principal. Desde que a missão foi para Judéia, o que necessariamente inclui Jerusalém como sua capital, o “retornaram” tem de ser ao local onde a missão teve origem.

 

d)  Atos 12.25, sumparalabontej kai Iwannhn, “havendo tomado João também, juntamente com eles”. Novamente, tanto o particípio quanto o verbo principal são aoristos. Compare Atos 13.13, onde João retorna eij Ierosaluma.

 

         Barnabé poderia ser visto como retornando para Jerusalém, tendo completado sua missão a Antioquia, mas isto não pode ser dito de Saulo. Não há nenhuma base para supor que Marcos estivesse em Antioquia (compare Atos 12.12), para poder retornar a Jerusalém com Barnabé e Saulo. Concluo que “para Jerusalém” dificilmente pode estar correto aqui, embora seja atestado por 60% dos MSS. Observamos que os outros 40% dos MSS, mais as três versões antigas, concordam que o sentido foi deixando Jerusalém para traz, não indo em sua direção. No entanto, eles estão divididos em cinco variantes principais, mais outras quatro isoladas, portanto como escolheremos a redação original? Suponho que em um caso como este temos realmente que apelar para o cânone básico da crítica textual: “prefira a variante que melhor explique a origem das outras. 

        

         Havemos de começar com pressuposições. Aqueles que pressupõem, que o texto original não foi inspirado, não foi inerrante, presumivelmente escolherão a variante 1.[29] Ela é a leitura “mais difícil”, conflitando com o contexto; muitos copistas notaram o problema e tentaram uma ação remediadora, produzindo as variantes 2, 3 e 6. As variantes 4 e 5 pareceriam ser conflações e, assim, desenvolvimentos subsequentes. A variante 7 é uma conflação óbvia. Não obstante, é curioso que embora “para Jerusalém” seja evidentemente antiga, nenhuma das primeiras versões a segue.

 

         Eu estou entre os que pressupõem que o texto original foi verdadeiramente inspirado e portanto inerrante; segue-se que estou predisposto contra variante 1, por constituir, evidentemente, um erro.[30] Que fazer, então? Se 4 e 5 são conflações, então 2, 3 e 6 são anteriores. Variantes 2 e 3 pareceriam ser tentativas independentes de “consertar” a variante 1.[31] Forçado a escolher entre 1 e 6, minhas pressuposições me guiam à variante 6; mas como poderia 6 ter dado origem a 1?

 

         Bem, um leitor superficial poderia ter focalizado em Barnabé e assumido que ele estava retornando a Jerusalém, tendo completado seu ministério em Antioquia. Sendo que 12.25 é a primeira menção de Barnabé (e Saulo) depois de 11.30, e como 11.30 não diz abertamente que eles “foram”, “retornaram”, ou qualquer outra coisa, um leitor superficial poderia facilmente decidir que ele tinha de ter Barnabé de volta a Jerusalém. Se o original de 12.25 lesse “a Antioquia” isto seria percebido como um problema, uma vez que, para o leitor superficial, eles ainda estariam lá, nunca havendo saído. Esta “correção” evidentemente aconteceu bastante cedo, e possivelmente mais que uma vez, independentemente – se um número de copistas separados entendessem mal o texto, na maneira sugerida, e se sentiram constrangidos a “consertá-lo”, presumivelmente a maioria deles meramente mudaria “Antioquia” para “Jerusalém.” 

        

         Embora 25,4% dos MSS, mais syp e sa, leiam eij Antioceian, apenas 5,1% o fazem sem conflação. No entanto, a variante 3 tem somente 3,4% [de atestação] sozinha e 15,5% com a conflação. A variante 2, sozinha, tem 10,8%, e com a conflação tem 18,4%. Assim, a variante 6 bate 3 tanto sozinha como também com conflações; a variante 6 perde para a 2 sozinha, mas com conflações, ganha. Submeto [à apreciação dos leitores minha opinião] que a variante 6 melhor explica a origem de todas as outras e, dadas as complexidades deste caso, tem o melhor direito a ter nossa confiança. Concluo que o Autografo de Atos 12.25 leu eij Antioceian, que presumivelmente é precisamente o que aconteceu (eles retornaram a Antioquia); isto também encaixa suavemente com 13.1 – comparando Atos 1.1 com Lucas 1.3 podemos concluir razoavelmente que Atos também foi planejado para ser um relato ordenado.

 

         Parece-me que só há, aqui, um modo de “salvar” a variante majoritária: colocar uma vírgula entre upestreyan e eij, assim fazendo “a Jerusalém” modificar “o ministério”. Mas tal construção é não natural ao ponto de ser inaceitável – tivesse aquele sido o propósito do autor, deveríamos esperar thn eij Ierousalhm diakonian ou thn diakonian eij Ierousalhm. Nas outras dezesseis vezes em que Lucas usa upostrefw eij, encontramos o significado normal, esperado: “retornar a”. Como um linguista (PhD) eu diria que as normas da linguagem exigem que usemos o mesmo significado em Atos 12.25. O que, à minha mente, deixa eij Antioceian como o único candidato viável para a leitura Original, neste local.

7) Implicações

 

O quadro inteiro da evidência é perturbador. É evidente que todas as variantes foram criadas deliberadamente; os copistas estavam reagindo ao significado de toda a frase dentro do contexto (nesta situação não adiantará considerar o nome de cada cidade isoladamente; a preposição acompanhante também tem que ser levada em conta). As variantes 2 a 6 são todas elas votos contra 1, mas temos que escolher uma delas para se erguer contra 1 – a escolha clara é 6. “Para Jerusalém” tem “Número”, “Antiguidade”, e “Continuidade”. “Para Antioquia” tem “Antiguidade”, “Variedade”, “Continuidade” e “Razoabilidade”. Como Burgon diria, este é um daqueles locais onde “Razoabilidade” simplesmente não pode ser ignorada, mas ela não está sozinha. “Para Antioquia” também ganha em “Variedade” enquanto “para Jerusalém” ganha somente em “Número” (não fortemente; “Antiguidade” e “Continuidade” são compartilhadas). Em consequência, as “marcas da verdade” confirmam nossa conclusão que eij Antioceian é a leitura original neste local.

 

         Terá sido observado que incluí f35 na declaração de evidências (em Atos). f35 em Atos corresponde a Mc em Apocalipse, como foi usado no Texto Majoritário H-F (Mc = família Complutense de Hoskier, cerca de 33 MSS). Estou convicto que Mc representa a melhor (mas não necessariamente perfeita) linha de transmissão em Apocalipse, e assim estou especialmente interessado no desempenho de f35 em Atos (e nas epístolas de Paulo). Em Atos f35 representa um núcleo de 70-75 MSS que estão costumeiramente em concordância. Mas não em Atos 12.25 – eles se dividem em cinco direções. A variante 1 tem a maior parte, 30 MSS, seguida pela variante 6, 21 MSS. Os que trazem “Antioquia” são 36 MSS; todos os sem “Antioquia”, também 36 MSS [mas seis deles são contra a variante 1]. Evidentemente f35 não é monolítica; eu gostaria de vê-la receber um estudo detalhado.

8) Exemplo – Lucas 6.1

 

         Devemos ler sabbatw deuteroprwtw (variante 1) ou sabbatw (variante 2)? A variante 1 é atestada por A,C,D,K,Q(P(Y( uns 1,800 outros MSS gregos, por lat,syh,goth,arm,geo, e por vários dos antigos pais. A variante 2 é atestada por P4,À,B,L,W, por uns 12 outros MSS gregos, e por itpt,syp,pal,cop,eth,Diat. A atestação da variante 2 é certamente antiga e variada, mas ela dificilmente tem mais que 1% dos votos! As passagens paralelas em Mateus 12.1 e Marcos 2.23 ambas têm “os sábados” (plural). Embora deuteroprwtw [segundo-primeiro] sem dúvida fizesse sentido excelente no primeiro século, desde então perdeu-se a informação cultural relevante. Assim, a variante 1 é definitivamente a leitura “mais difícil” e a palavra ofensiva poderia facilmente ter sido retirada, aqui e ali, especialmente em locais como Egito e Etiópia, onde as minúcias da cultura judaica provavelmente seriam desconhecidas. O fato que tanto Mateus como Marcos utilizam o plural sugere que Lucas simplesmente foi mais específico. Temos aqui uma ilustração eloquente da fidelidade que caracterizou a vasta maioria dos copistas no decorrer dos séculos de traslado manual. Embora, presumivelmente, não entendessem a palavra deuteroprwtw, nem por isso deixaram de reproduzi-la letra por letra, em suas cópias. Temos para com eles um débito de gratidão.

8) Implicações

 

         A variante 2 tem “Antiguidade” e “Variedade”. A variante 1 também tem “Antiguidade” e “Variedade”, mais “Continuidade” e “Número” (esmagadoramente). “Razoabilidade” não pode ser alegada contra a variante 1, neste caso, porque a dificuldade surge da nossa ignorância, não do contexto nem de fatos demonstráveis da história, ciência ou seja o que for. A “marca” de “Respeitabilidade” atua neste caso: os MSS citados para a variante 2 são todos de qualidade demonstravelmente inferior. Não temos a mais leve dúvida que a variante 1 é a leitura original.

 

         Discutirei agora as implicações de “número esmagador.” No começo desta seção [Exemplos e Implicações] fiz referência a um “piso” de atestação, e sugeri 80%. Onde certa leitura domina 80% (para não mencionar 90% ou 95%) da atestação, ela evidentemente dominou o rio da transmissão, ou árvore genealógica, e as chances de um erro assim fazer são minúsculas. (Naturalmente, um erro poderia ter conseguido isso, aqui e acolá, mas cada vez que nós “descontamos aquele [mau] cheque” isto aumenta as chances contra qualquer uso subsequente daquele expediente – uma dúzia de maus cheques é suficiente para fechar a conta.) Eu pessoalmente não concederia sequer a possibilidade teórica que um erro poderia dominar tanto quanto 95% da atestação, e provavelmente nem mesmo 90%. (Meus “maus cheques” hipotéticos ficariam portanto entre 80% e 90%. Favor de notar o termo hipotético: ainda não encontrei um exemplo real.) Assim, “Jeremias” em Mateus 27.9 tem que ser original, uma vez que é atestado por mais que 98% dos MSS gregos. Em 1 João 5.7-8, 99% dos MSS gregos não trazem as “três testemunhas celestiais”. Marcos 16.9-20 é atestado por não menos que 99,8% dos MSS conhecidos!

 

         Mas por que por o piso em 80% em vez de 70%, ou mesmo 60%? Bem, a escolha é arbitrária. Qualquer coisa com mais de 2/3 de atestação é muito provável de ser correta, mas há uma significativa diferença entre 70% e 80% – uma racha 70/30 dá uma proporção 2.33:1, mas uma racha 80/20 dá uma proporção 4:1, quase duas vezes mais forte (90% dá uma proporção 9:1 enquanto 95% dá uma proporção 19:1 e 98% dá uma proporção 49:1!) Os acidentes da história poderiam facilmente resultar em uma transmissão desigual tal que uma leitura sem méritos poderia aparecer com 60% de atestação, ou mesmo mais. Tenho visto diversas leituras com até 75% de apoio que suspeito irão ser provadas estar em erro. Onde a atestação é seriamente dividida (ou estilhaçada) temos que verdadeiramente “pesar” as testemunhas, não apenas contá-las. Com base em colações completas, temos que estabelecer famílias ou agrupamentos de MSS, e determinar a “média de acertos’ ou quociente de credibilidade de cada uma – especial atenção deve ser dada aos grupos que obtêm as notas mais elevadas.

9) Exemplo – Apocalipse 4.8

 

         A contabilidade das evidências baseia-se em Hoskier e no Texto Majoritário de H-F.[32] A questão é se “santo” ocorre três vezes (variante 1) ou nove vezes (variante 2). A variante 1 é atestada por A,P,Md,e,g,h, a maioria dos “independentes” e 38% de Ma, perfazendo o total de 108 MSS. A variante 2 é atestado por f35(À)Mb,f,a, perfazendo o total de 95 MSS. Ma e Mb geralmente concordam e derivam de um exemplar em comum, creio. Md e Me geralmente concordam e derivam de um exemplar em comum.  Md,e e Ma,b geralmente discordam, enquanto f35 (Mc) ora se alinha com um, ora com outro, aproximadamente meio a meio. Isto significa que temos três linhas independentes de transmissão, e elas são mais antigas que À, uma vez que À as conflata (em outros locais). O grupo liderado por Ma é às vezes chamado “Q” e inclui Mf e Mg. Mh e os “independentes” são difíceis de avaliar.

 

         Que Ma,b,f estão em concordância presumivelmente indica que o exemplar Ma,b leu variante 2. Neste caso, os MSS do tipo “Q” que têm a variante 1 desviaram-se do seu exemplar, quer por mistura ou por simplificação independente (se privássemos a variante 1 daqueles 23 MSS, a atestação numérica mudaria de  forma significante). Seguramente é mais provável que a variante 2 seja mudada para variante 1 do que vice-versa. Aliás, experimente ler em voz alta “santo” 9 vezes em seguida – começa a ficar desconfortável! Uma vez que, no contexto, os quatro seres viventes [ou “animais”] estão se repetindo interminavelmente, os nove “santos” são tanto apropriados quanto eficazes (cada pessoa da Trindade recebe três). Deduzo que f35 (Mc) e Ma,b preservam o original, enquanto Md,e se desviou.

 

 

9) Implicações

 

         Por causa das três linhas independentes de transmissão (pelo menos), e pelos alinhamentos instáveis entre elas e seus sub-grupos, o Apocalipse é o único livro onde encontramos muitos jogos de variantes sem nenhuma leitura majoritária – cerca de 150 (e mais 250 onde a maioria é menos que 60%). Os que argumentam que a teoria do Texto Majoritário faz sua melhor defesa em Apocalipse estão redondamente enganados; ocorre precisamente o contrário. As colações de Hoskier nos permitem agrupar os MSS empiricamente, de modo que, na avaliação de variantes, precisamos lidar com os grupos, não apenas contar MSS individuais. As “marcas” de Burgon são frequentemente difíceis de aplicar em casos tais como os 400 [= 150+250] mencionados; a maioria das marcas se dividem, não dando nenhum veredicto claro. Com base no seu desempenho em todo o livro, eu diria que f35 tem a melhor “média de acertos”, mas se há basicamente três linhas independentes de transmissão, então duas contra uma deverão vencer. Aqui temos f35 (Mc) e Ma,b (em favor da variante 2) contra Md,e (em favor da variante 1) – se os três “santos” fossem a leitura original, como jamais poderiam os nove “santos” chegar a capturar duas das [três] correntes independentes?

 

Conclusão

 

         E agora? Como identificar a exata redação original? Primeiro devemos ajuntar as evidências disponíveis – o que inclui os MSS gregos (incluindo os lecionários), os escritos dos pais da Igreja e as versões. Depois devemos avaliar as evidências para determinar qual forma de texto goza da atestação mais antiga, mais plena, mais ampla, mais respeitável e mais variada.[33] Deve ser enfatizado que a força das “marcas da verdade” reside na sua cooperação. Elas têm que ser consideradas e tomadas todas juntas, pois a existência de variantes em competição [umas com as outras] significa que pelo menos algumas das notas não podem ser plenamente satisfeitas. Mas ao aplicarmos todas elas, seremos capazes de formar um julgamento inteligente quanto à independência e credibilidade das diversas testemunhas.

 

         Na verdade, o trabalho de Hoskier e Wisse[34] nos mostra que é possível agrupar os MSS empiricamente, com base em um mosaico compartilhado de leituras. Uma vez que isto seja feito, estaremos lidando com grupos independentes, não com MSS individuais. Deste modo, o estudo de Wisse sobre Lucas reduziu 1386 MSS a 37 grupos (mais 89 MSS, cada um “independente de todos”).[35] Estes [grupos] têm que ser avaliados quanto à independência e credibilidade. As testemunhas independentes e merecedoras de confiança têm então que ter seus votos contados. Proponho que o processo devido exige de nós que recebamos como original a forma de texto que é atestada pela maioria clara dessas testemunhas; rejeitar seu testemunho em favor da nossa própria imaginação a respeito do que a leitura deveria ser é manifestamente indefensável.

 

         Estou seguro que se Burgon estivesse vivo hoje concordaria que as descobertas e pesquisa dos últimos cem anos tornam possível, e mesmo necessário, alguns retoques na sua teoria. Prossigo para esboçar o que considero ser a abordagem correta para a crítica textual do NT. Aventuro-me a denominá-la Teoria do Texto Original (TTO).[36]

 

1)   Primeiro: a TTO está interessada em identificar a exata redação original dos escritos do NT.

 

2)   Segundo: os critérios devem ser bíblicos, objetivos e sensatos.

 

3)   Terceiro: uma atestação de 90% será considerada inatacável, e 80% praticamente inatacável.

 

4)   Quarto: as “marcas da verdade” de Burgon entrarão em ação, especialmente onde a atestação cai abaixo de 80%.

 

5)   Quinto: onde existem colações, fazendo possível um agrupamento empírico dos MSS na base de mosaicos compartilhados de leituras, tal [agrupamento] deve ser feito. Tais grupos têm de ser avaliados com base em seu desempenho, sendo-lhes atribuído um quociente de credibilidade. Uma história presumível da transmissão do Texto precisa ser desenvolvida, com base nos inter-relacionamentos de tais grupos. Agrupamentos e relacionamentos que  tenham sido demonstrados substituem a contagem de MSS.[37]

 

6)   Sexto: a TTO pressupõe que o Criador existe e que Ele tem se comunicado com nossa raça. Ela aceita o propósito divino implícito de preservar Sua revelação para o uso das gerações subsequentes, incluindo a nossa. Ela entende que tanto Deus como Satanás têm um interesse ativo e contínuo no destino do Texto do NT – abordar a crítica textual do NT sem levar em conta devidamente estes interesses é agir de forma irresponsável.

 

7)   Sétimo: a TTO insiste em que pressuposições e motivações sempre devem ser tratadas e  avaliadas.

 

 

 

                                                                 Wilbur N. Pickering.                      

[Hélio de M.S. colocou raras explicações entre colchetes [ ], e enfatizou algumas frases (por negrito, sublinhado ou faixa de realce em cores); e, como sempre, lembra que, ao citar qualquer autor, concorda com a argumentação principal da citação, mas não necessariamente com tudo dela, nem com todos os artigos do autor.]

 

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[1]Burgon, The Traditional Text, p. 29. Reconheço prontamente minha considerável dívida ao Deão Burgon, especialmente por me estimular a atentar para a evidência, mas meu tratamento das várias “marcas” não é idêntico ao seu. Fee diz dessas marcas, “todas elas são simplesmente sete maneiras diferentes de dizer que a maioria sempre está certa” (“A Critique”, p. 423). Deve ser evidente ao leitor, mesmo de relance, que a declaração de Fee é irresponsável. Esta é uma clara ilustração da falta de cuidado e da superficialidade que caracterizam a maior parte da sua crítica.

[2]N.Trads.: Lembrar que testemunhas abrangem: MSS, lecionários, citações pelos pais, e versões (traduções).

[3]N.Trads.: A Idade Média, ou Idade das Trevas, vai de cerca de 590 (com o papa Gregório I) a cerca de 1517 (com Lutero) d.C., período em que foi asfixiante a escravidão imposta pela igreja de Roma a toda a Europa.

[4]Sturz, p. 67-70.

[5]Burgon, The Traditional Text, p. 107, 255-56. Com respeito a esta contabilidade de evidências, Fee diz o seguinte: “Eu me dei ao trabalho de conferir acima de três quartos dos dezessete pais da Igreja usados por Burgon em suporte [de “vinagre”], e não é demonstrável que qualquer um deles [ênfase de Fee] esteja citando Mateus” (Ibid., p. 418-19). (O termo oxoj, “vinagre”, também ocorre nas passagens quase-paralelas – Mc. 15:36; Lc. 23:36 e João 19:29.)

            Antes de conferir os pais individualmente, podemos registrar surpresa ante a veemência de Fee, em vista da sua própria afirmação que é “incontroversível” que “o Evangelho de Mateus foi o mais citado e usado dos Evangelhos sinópticos”, e que “estes dados simplesmente não podem ser ignorados ao se fazer decisões textuais” (Ibid., p. 412). Somos agradecidos a Fee por esta informação, mas não podemos senão notar que ele próprio parece estar “ignorando”. Poderíamos supor, justificadamente, que pelo menos 9 das 17 citações de Burgon são de Mateus, mas não estamos reduzidos a um procedimento tão fraco.

            Muito embora um pai possa não dizer, “Aqui eu estou citando Mateus”, pela atenta observação do contexto poderemos estar praticamente tão certos quanto se ele o tivesse dito. Então, embora todos os quatro evangelhos usem a palavra “vinagre”, apenas Mateus usa a palavra “fel”, cole, em associação com o vinagre (e Atos 8:23 é o único outro local no NT onde “fel” aparece). Segue-se que qualquer referência patrística a vinagre e fel, juntos, só pode ser uma citação baseada em Mateus (ou Salmo 69:21). Quando Barnabé diz, potizein colen meta oxoj (7:5), pode haver qualquer dúvida quanto à fonte [da sua citação]? Quando o Evangelho de Pedro diz, Potisate auton colen meta oxouj (5:16), a fonte não tem de ser Mateus? Quando Gregório de Nissa diz, cole te kai oxei diabrocoj (Orat. x:989:6), pode sobrar qualquer dúvida [quanto ele estar citando Mateus]? Podemos notar de passagem que o NT grego de Alford, no próprio versículo, diz claramente que Orígenes e Tertuliano ambos dão suporte à leitura “Bizantina” sob discussão. (A pesquisa refletida na discussão acima foi realizada por Maurice A. Robinson e gentilmente posta à minha disposição).

            Notar também que Irineu escreveu, Ele deveria ter vinagre e fel dados a Si, para beber” (Against Heresies, XXXIII:12), em uma série de profecias do AT que ele disse que Cristo cumpriu. Presumivelmente, Irineu tinha Sl. 69.21 em mente – “Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre – mas ele parece ter assimilado a Mateus 27.34 (a leitura “Bizantina”).  O Evangelho de Nicodemo tem e também Lhe deu a beber fel com vinagre(Parte II, 4). A Revelação de Esdras tem “Vinagre e fel eles me deram a beber.” As Constituições Apostólicas têm “deram-Lhe vinagre a beber, misturado com fel” (V:3:14). Tertuliano tem “e fel é misturado com vinagre” (Apêndice, Réplica a Marcião, V:232). Em uma lista dos sofrimentos de Cristo a partir da qual os leitores são exortados a seguir Seu exemplo, Gregório Nazianzus tem: “Provai fel pelo propósito de provar; bebei vinagre” (Oratio XXXVIII:18).

            Qualquer que seja a interpretação que o leitor possa desejar dar à declaração de Fee, notada no início [desta nota de rodapé], é claro que a leitura “vinagre” em Mateus 27.34 tem atestação do segundo século (ou talvez mesmo do primeiro, no caso de Barnabé!). A leitura em foco passa o teste de “antiguidade” triunfantemente.

[6] Quem quer que ofereça uma emenda conjectural em face de tais atestações está alegando que sua autoridade é maior que a de todas as testemunhas combinadas – mas, uma vez que tal pessoa não é, de modo algum, uma testemunha (não sabe nem pode saber o que foi escrito, tendo rejeitado atestação de 100%), sua autoridade é nula.

[7]Westcott e Hort, p. 45.

[8]Lake, Blake e New, p. 348-49.

[9]Burgon, The Traditional Text, p. 46-47.

[10]Compare Epp, “The Claremont Profile Method for Grouping New Testament Minuscule Manuscripts,” Studies in the History and Text of the New Testament in Honor of Kenneth Willis Clark, PhD. (Studies and Documents, 29) ed. B.L. Daniels e M.J. Suggs (Salt Lake City: University of Utah Press, 1967), p. 27-38.

[11]Burgon, The Traditional Text, p. 50-51. Quem quer que tenha sido ensinado que Burgon seguiu “meros números” perceberá que há mais na história do que lhe foi contado.

[12]Compare Streeter, p. 148; Tasker, “Introduction to the Manuscripts of the New Testament,” Harvard Theological Review, XLI (1948), 76;  Metzger, The Text, p. 171; Clark, “The Manuscripts of the Greek New Testament,” p. 3.

[13]Burgon, The Traditional Text, p. 52.

[14]Ibid., p. 59.

[15]Parece-me ser francamente impossível que uma leitura original pudesse ter desaparecido totalmente do conhecimento da Igreja por acima de um milênio e então pipocar magicamente no século XII. Refiro-me a uma testemunha isolada: centenas de MSS medievais necessariamente refletem um texto antigo.

[16]F. Wisse, The Profile Method for Classifying and Evaluating Manuscript Evidence (Grand Rapids: Eerdmans, 1982).

[17]Westcott e Hort, p. 275;  Zuntz, The Text, p. 84.

[18]Burgon;, The Traditional Text, p. 58.

[19]Burgon, The Traditional Text, p. 62.

[20]Burgon, The Revision Revised, p. 77-78.

[21]Burgon, The Traditional Text, p. 65.

[22]Colwell, “Scribal Habits.”

[23]N.Trads.: Lc. 23.44, nas Bíblias em português.

[24]Burgon, Ibid., p. 66-67.

[25]The New Testament in Greek: The Gospel According to St. Luke, Vol. I, ed. The International Greek New Testament Project (Oxford: Clarendon Press, 1984), p. 74.

[26]Text und Textwert der Griechischen Handschriften des Neuen Testaments, ed. Kurt Aland (Berlin: Walter de Gruyter, 1993).

[27]Notar que estudiosos com pressuposições tão diversas quanto um Alford, um Burgon, um Hort ou um Metzger têm chegado à mesma conclusão.

[28]Em Atos o autor parece quase usar “Jerusalém” e “Judéia” equivalentemente, talvez para evitar repetição. E.g. 11.1 Judéia, 11.2 Jerusalém (os apóstolos não estavam em Jerusalém ou seus arredores imediatos?); 11.27 Jerusalém, 11.29 Judéia, 11.30 os anciãos (os principais presbíteros não estariam em Jerusalém?); 12.1-19 tomou lugar em Jerusalém, mas v. 19 diz que Herodes desceu da Judéia para Cesareia; 15.1 Judéia, 15.2 Jerusalém;  28.21 cartas da “Judéia” provavelmente significa Jerusalém.

[29]Favor notar que eu não estou dizendo que eles são os únicos que poderiam fazer uma tal escolha, nem mesmo que eles necessariamente o farão.

[30]Favor notar, novamente, que estou falando somente de mim mesmo. Estou estabelecendo o ponto essencial que pressuposições sempre têm que ser levadas em conta, uma vez que influenciam pesadamente a interpretação dos dados. Isto é verdadeiro para todos os praticantes, em qualquer disciplina.

[31]Upostrefw ek não tem precedentes (no NT), upostrefw apo ocorre 4 vezes, upostrefw eij ocorre 17 vezes. A leitura do TR é altamente improvável, falando-se estatisticamente. Se tivéssemos de escolher entre apo e ek( apo ganharia em todas as contas.

[32]Hoskier, Concerning the Text of the Apocalypse; Hodges e Farstad, The Greek New Testament according to the Majority Text.

[33]Compare Burgon, The Revision Revised, p. 339.

[34]As colações publicadas na série Text und Textwert, editada por K. Aland, representam uma contribuição importante com referência aos jogos de variantes tratados.

[35]Favor notar que estou aqui interessado no princípio envolvido. Naturalmente estudiosos diferentes podem argumentar em favor de alinhamentos diferentes, atribuir MSS individuais a grupos diferentes, etc., mas nada disto altera o princípio que os MSS podem ser agrupados, empiricamente.

[36]Já pensei em ressuscitar o termo “tradicional”, mas desde que Burgon e Miller não estão aqui para protestar, hesito; ademais, esse termo não mais é descritivo. Termos tais como “antioquino” ou “bizantino” carregam um peso inapropriado de antipatia, ou têm sido já escolhido por outros. Assim, aqui decidimos por Teoria do Texto Original. Uma vez que eu realmente creio que Deus tem preservado a redação original para nossos dias, e que podemos saber qual é ela, com base em um procedimento defensável, eu não temo a acusação de arrogância, ou presunção, ou seja o que for, por eu usar o termo “original”. Toda crítica textual merecedora de assim ser chamada está em busca da redação original.

[37]Favor notar que não estou me referindo a qualquer tentativa de reconstruir uma genealogia de MSS – concordo com aqueles estudiosos que têm declarado tal tarefa ser praticamente impossível (existem demasiados elos faltando). Estou me referindo, de fato, à reconstrução de uma genealogia de leituras, e portanto da história da transmissão do Texto.

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